sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quem quer comprar meu samba?

O que se vê, aquela coisa plástica, materializada, esteticamente composta, é o que enche os olhos, o que encanta, o que desperta a libido. O corpo é o portfólio do individuo.
E essa representação se intensifica nas festinhas (boatezinhas, rockzinhos, sambazinhos, forrozinhos, etczinhos). Alguns vão lá pra demonstrar o produto, e outros (obviamente) para consumir. E ganha quem dá mais. Quem dá mais samba, quem dá mais moda, quem dá mais padrão e segurança, quem dá mais o que tem pra dar e vender.
Cada um no seu papel, vários personagens parecidos. Ninguém quer estar em evidencia como um ser diferente. Tem que rolar identificação. Puta que pariu o que é identidade?
Nessa sociedade pós-moderna o mundo das aparências está em evidencia, e a todo o momento e a todo custo caminhamos ao rumo do sol, há mais coisas pra ver, mais que a imaginação, tem a nos permitir, é o ciclo sem fim, hey, hey, hey, hey, que nos guiará, a dor e a emoção, pela fé e o amor, até encontrar o nosso caminho, nesse ciclo, nesse ciclo sem fim, hey, hey, hey, hey. Já dizia a trilha sonora de “O rei leão”, rsrsrrsrssrs.
Mas é mais ou menos por aí mesmo, buscar o caminho do sol, o foco da luz, o padrão pro pertencimento.
Entretanto hoje já existem vários modelos para se consumir, foi criada a noção de grupo, gueto, galera, tribo. E assim os seres se tornam diferentes (de um grupo pro outro), mas iguais (dentro do próprio seguimento). Então externar isso em seu portfólio (o corpo, a sua aparência) é imprescindível para sentir-se pertencente à determinada tribo. Quem discorda que falar em autenticidade, hoje, é hipocrisia?
Assim, as festinhas tornam-se um ótimo laboratório pra estudo de caso, rs. Moves’s, Hey Ladies, L.E.B’s, Swingers, Happy’s News, Buracos, Lacraias, Cobras e Lagartos. Todo tipo. Independente do seguimento. E não me excluo da analise. Minha pesquisa é empírica, mas que desrespeita o distanciamento do pesquisador. Meu comportamento também conta. Eu participo dessa reprodução inconscientemente?
Não sei, pra mim ainda não tenho respostas. Vivo de perguntas, questões e mais questões. Vivo buscando me encontrar, tentando me identificar, mas sem excluir grupos, sem rixas entre lados, talvez seja por isso que ainda não tenha encontrado um que me identificasse tanto.
Até porque, a meu ver, os encantos dessas aparências passam tão rápido quanto vieram. A essência fica esquecida, as pessoas já não tem mais tempo para conhecer melhor alguém, já consideram-se suficientemente suprido de amigos e de pessoas ao seu redor. E a essência? Foda-se a essência. É algo tão complexo que é ignorado, deixado de lado, como um livro, que por não ter uma arte tão magnífica na capa, acaba sem vender seu samba.