domingo, 22 de novembro de 2009

Esperando...

... Godot*!

Didi: Eu sinto...

Gogo: Você sente?

Didi: Sinto como se estivesse na hora certa para compor nossa primeira música.

Gogo: Que papo é esse?

Didi: Sinto como se você me dissesse o primeiro adeus.

Gogo: Que papo é esse?

Didi: Me dê um cigarro!

Gogo: Não fumo!

Didi: Tinha esquecido. Vou comprar cigarros.

Gogo: Comprar cigarros? Onde? Ficou maluco?

Didi: Eu tenho um pouco de fumo no meu bolso, acho que vai servir para aturar meus primeiros minutos em que sinto que estou te perdendo.

Gogo: Que papo é esse?

Didi: Você só sabe perguntar isso?

Gogo: Isso o que?

Didi: Deixa pra lá.

Gogo: O que estamos mesmo fazendo aqui?

Didi: Bem, não sei.

Gogo: Era de se imaginar!

Didi: Se o que tenho pra te dar é amor?

Gogo: Agora mesmo que não entendo o que você diz. Não estou entendendo onde você pretende chegar.

Didi: A lugar algum.

Gogo: Ótimo! Assim as coisas ficam mais claras!

Didi: Você que se diz direto. Na minha direção, diria que não me quer mais?

Gogo: (Apenas hesita em dizer algo)

Didi: Ou simplesmente pararia de falar comigo?

Gogo: Eu? Parar de falar com você?

Didi: É.

Gogo: Marca no meu escritório a hora que você quer pra eu te atender!

Didi: Assim eu espero.

Gogo: Espera o que?

Didi: Espero Godot.

Gogo: Mas quem é esse tal Godin?

Didi: Godot!

Gogo: Godot!

Didi: Você saberá!

Gogo: Eu o conheço?

Didi: Presumo que sim. Ou não? Não sei, não me faça esse tipo de questionamento a essa hora da noite!

Gogo: Mas que tipo de questionamento eu faria?

Didi: Qualquer um, menos esse!

Gogo: E porque não esse?

Didi: Tudo bem, fale o que quiser. Estou esperando ele mesmo. Assim é bom, que o tempo passa mais rápido.

Gogo: Como pode passar mais rápido? Se o tempo é o mesmo?

Didi: Passa mais rápido, a medida que eu não percebo que ele está passando. Por isso acho que na sua ausência ele iria demorar um pouco mais a passar.

Gogo: Como você pode achar isso , se nunca provou. A quanto tempo estamos juntos?

Didi: Há algumas semanas!

Gogo: Há algumas semanas!

Didi: Isso o tornaria substituível?

Gogo: Sim, presumo eu.

Didi: Pois então me deixe enquanto ainda há tempo. Pois não quero sentir a dor de uma grande perda!

Gogo: E depois que eu partir? O que você pretende fazer?

Didi: Vou continuar esperando Godot!


*Analogia ao texto de Samuel Beckett “Esperando Godot”. Descrição de um dia fatídico em meus pensamentos, produtivo em minhas relações intelectuais, frustrante em minha espera por Godot que não veio hoje.


Gogo: Porque você não fica quieto por um instante?

Didi: Assim eu incomodo?

Gogo: Não é isso. Você não gosta do silêncio?

Didi: Às vezes.

Gogo: Então porque não fica quieto agora!

Didi: É que falando eu sinto que existo.

Gogo: E não há possibilidades de se existir no silêncio?